quarta-feira, 18 de maio de 2011

GENÉTICA E ODONTOLOGIA - PARTE 2


ODONTOLOGIA RACIAL
Genética de populações
Genética de populações é o ramo da genética que trata dos problemas relacionados com a distribuição dos genes e genótipos nas populações. Preocupa-se, portanto, com a natureza e origem das diferenças genéticas, sua manutenção ou processo de eliminação, bem como com o cálculo de suas freqüências relativas.
Um odontólogo precisa ter noções sobre esta área da genética, uma vez que, através desta informação, ele poderá calcular a freqüência de portadores assintomáticos de doenças hereditárias que afetam os dentes, o que é muitas vezes indispensável para fornecer aconselhamento sobre probabilidade de prole afetada. Há, porém, uma área de atuação do odontólogo na qual é especialmente importante ter noções claras sobre a genética de populações: é a do uso dos raios-X para fins diagnósticos de problemas dentários.
A genética de populações tem como seu princípio básico a lei de Hardy-Weinberg, assim denominada em homenagem a seus descobridores, G. H. Hardy, matemático inglês, e W. Weinberg, médico alemão. Antes da derivação desta lei, em 1908, partindo da observação de que nas segregações familiares a proporção, no casamento de dois heterozigotos para um par de genes autossômicos, era de 3 fenótipos dominantes para 1 recessivo, supunha-se que fatalmente, após um determinado número de gerações, só deveriam subsistir na população genes dominantes (uma situação que poderia ser denominada de genofagia). Estes dois cientistas, no entanto, demonstraram que na ausência de fatores que perturbem esta distribuição e numa população com cruzamentos ao acaso, a proporção de caracteres dominantes e recessivos pode ser de qualquer tipo e as freqüências relativas de cada alelo tendem a permanecer constantes de geração a geração. Simbolizando-se por p a freqüência do alelo A e por q a de a, pode-se demonstrar facilmente que a distribuição genotípica, na população, será de p²AA + 2pq Aa + q²aa.
Se não há alterações de freqüências gênicas entre gerações, isto significa que vivemos em um mundo imutável, cada geração monotonamente repetindo o que ocorreu na anterior? Não, a lei de Hardy-Weinberg descreve somente a estática da distribuição gênica, e é válida apenas para genes em equilíbrio. Os principais fatores que podem alterar este equilíbrio são a mutação e a seleção natural. Em casos especiais, e principalmente em populações pequenas, a deriva genética também pode ser responsável por mudanças.
Mutação pode ser considerada como qualquer alteração no material genético. Essas alterações ocorrem espontaneamente em uma taxa média de 1:100.000 ( lx10 -5); isto é, em cada geração celular, em um loco especifico, 1 alelo em cada 100.000 replica-se erroneamente.
Porém, existem fatores que podem aumentar essa taxa de mutação. Tanto as radiações, como substâncias químicas diversas, podem aumentar a taxa espontânea de mutação. A unidade de dose de radiação absorvida é denominada rad. A radiação natural talvez forneça 130 milirads de exposição geneticamente efetiva (isto é, que alcança as gônadas) por ano, enquanto a radiação produzida pelo homem (especialmente a utilizada para fins diagnósticos na medicina e odontologia) adiciona mais cerca de 60 milirads (total: 190). Calculando-se em 30 anos o período reprodutivo, ter-se-ia uma exposição total de talvez 6 rads.
Quais seriam os efeitos desta exposição? Há dois princípios básicos de radiogenética que devem ser sempre lembrados:
(a) quanto a efeitos genéticos, não há limiar, isto é, qualquer dose, por pequena que seja, é potencialmente mutagênica;
(b) as doses são cumulativas.
Isto significa que deve ser evitada qualquer irradiação desnecessária. A propósito, recorde-se que uma radiografia de toda a arcada dentária fornece uma dose, à superfície do corpo, de 5r! E que, como as mutações ocorrem ao acaso, dificilmente elas serão benéficas, envolvendo quase sempre mudanças deletérias.
Também não deve-se confundir seleção natural com deriva genética. A definição de Charles Darwin de seleção natural é muito simples e clara; ela envolve "a preservação das diferenças individuais e variações favoráveis e a destruição das prejudiciais''. Constitui este processo, juntamente com a mutação, os dois fatores fundamentais responsáveis pela evolução biológica. A seleção determina mudanças de cunho determinista (podem ser previstas); mas há elementos de puro acaso que podem influir na passagem dos genes de uma geração a outra, que são englobados sob a denominação geral de deriva genética.
Variação racial de características dentárias
Os processos acima indicados são responsáveis pela variabilidade genética existente numa espécie; através do isolamento geográfico é possível o estabelecimento, dentro de cada espécie, de unidades populacionais características, as raças.
Pode-se definir raça, para a espécie humana, como o “conjunto de indivíduos geográfica ou culturalmente mais ou menos isolados, que diferem geneticamente de outros grupos similares”. Examinada dentro deste contexto esta unidade populacional pode ser considerada a resultante inicial do processo de diversificação evolutiva.
As raças diferem entre si em um grande número de características dentárias. Algumas dessas diferenças relacionam-se com a seqüência e cronologia da erupção dentária, bem como com o tamanho e proporção de dentes e arcadas, aspectos já abordados anteriormente neste livro. Duas das características mais estudadas, que serão aqui examinadas, são os incisivos em forma de pá e o tubérculo de Carabelli.
Incisivos em forma de pá
Fig.8 – Os quatro tipos de incisivos em forma de pá estabelecidos por Hrdlička. Há uma gradação, desde uma manifestação marcante (a), até a ausência da característica (d).


Quando, nesses dentes, há na superfície lingual margens laterais proeminentes, criando uma depressão, diz-se que eles têm a forma de uma pá. Há uma gradação na manifestação da característica, e o antropólogo norte-americano A. Hrdli
čka classificou-a de acordo com quatro tipos (Fig.8). Há, no entanto, formas intermediárias. A herança é do tipo poligênico, mostrando acentuada variação racial. Enquanto em brancos ocorrem incisivos moderada ou marcantemente com esta forma em apenas 10% das pessoas examinadas, esta freqüência eleva-se a mais de 70% em chineses e japoneses, podendo alcançar valores de até l00% em índios americanos e esquimós.

Tubérculo de Carabelli
Consiste numa alteração morfológica normalmente localizada na superfície palatal da cúspide mesio-lingual dos molares maxilares permanentes ou decíduos. A variação inclui desde uma pequena depressão, apenas, até a presença de um tubérculo grande (Fig.9). O dente mais comumente afetado é o primeiro molar. O tipo de herança desta característica também não está bem definido; provavelmente mais que um par de genes influi na sua manifestação, assim como fatores ambientais. Grupos asiáticos apresentam baixa freqüência deste traço (25-60%), enquanto europeus e africanos mostram altas prevalências (70-90%).



Fig.9 – Classificação em 8 tipos, do tubérculo de Carabelli

0 comentários:

Postar um comentário

 

©2009 DentistryAndHealth | by TNB