ODONTOLOGIA RACIAL
AÇÃO GÊNICA
Os termos dominante e recessivo foram usados pela primeira vez por G. Mendel, o criador da Genética, e já fazem parte do nosso vocabulário diário. Um gene dominante pode ser definido como aquele que se manifesta em dose simples; recessivos seriam aqueles só detectáveis em dose dupla. É claro que essas definições relacionam-se com o método de observação. Ao nível molecular todos os genes são dominantes, pois o estudo apropriado de seu produto primário inevitavelmente indicará qualquer alteração que tenha ocorrido no mesmo. Estritamente falando é o caráter (expressão fenotípica do gene), e não este último, que é dominante ou recessivo, embora os termos gene dominante ou gene recessivo sejam comumente usados.
Fatores ambientais podem influir na manifestação de uma característica. Se um alelo determinado dá origem a fenótipos diversificados diz-se que ele possui expressividade variada. Em situações extremas o alelo pode estar presente e não se manifestar fenotipicamente - nesses casos, fala-se de penetrância incompleta. Cada alelo tem apenas um efeito primário ao nível molecular. Porém, ele pode produzir uma série de outros efeitos secundários, dependendo do grau de participação deste produto primário em cadeias metabólicas diferentes. Denomina-se pleiotropia a propriedade de um alelo ou par de alelos produzirem efeitos fenotípicos múltiplos.
Os dados familiares relativos a uma determinada condição podem ser resumidos em árvores genealógicas ou heredogramas, utilizando-se os símbolos indicados na fig.10:
Fig.10
CRITÉRIOS PARA A IDENTIFICAÇÃO DA HERANÇA AUTOSSÔMICA DOMINANTE
Há algumas regras simples que permitem, no caso de características hereditárias raras, identificar quais são autossômicas dominantes. Supõe-se sempre, nesses casos, expressividade constante e penetrância completa. As regras podem ser enumeradas do seguinte modo:
1) O traço aparece em gerações sucessivas, sem "pular" nenhuma;
2) Ele é transmitido de uma pessoa afetada a cerca da metade de seus descendentes;
3) Não há preferência sexual, isto é, a probabilidade de homens ou mulheres apresentarem a característica é a mesma, sendo idêntica, também, a probabilidade de transmiti-la.
CRITÉRIOS PARA A IDENTIFICAÇÃO DA HERANÇA AUTOSSÔMICA RECESSIVA
1) O traço aparece em irmãos, com genitores normais.
2) Em média, 1/4 dos irmãos do propósito (indivíduo afetado através do qual a família é localizada) possuem a característica.
3) Há um aumento na probabilidade de que os genitores sejam consangüíneos (porque, se a característica é rara, seria pouco provável o casamento de dois heterozigotos não relacionados biologicamente; no caso de eles serem primos, no entanto, pode-se explicar essa união rara pelo fato de ambos serem portadores de réplicas de um mesmo gene mutante, presente em um dos ancestrais comuns).
4) Também aqui não há preferência sexual na manifestação ou transmissão da característica.
CO-DOMINÂNCIA E HERANÇA INTERMEDIÁRIA
Se ambos os alelos de um par expressam-se de maneira completa no heterozigoto, diz-se que eles são co-dominantes. Por exemplo, uma pessoa do grupo sangüíneo AB apresenta tanto o antígeno A como o B em suas hemácias, substâncias essas formadas através da ação dos genes IA e IB, presentes em suas células. Se a expressão fenotípica do heterozigoto, contudo, ao invés de manifestar-se como um mosaico, mostra-se quantitativamente intermediária, diz-se que a herança é deste tipo (intermediária). Muitos dos erros inatos do metabolismo podem ser classificados como tendo este modo de herança, pois o doente (homozigoto para o alelo mutante) apresenta níveis mínimos de atividade enzimática, o homozigoto para o alelo normal atividade de 100% e o heterozigoto, em média, 50%. Exemplo: galactosemia, doença caracterizada por hepatoesplenomegalia, cirrose do fígado, cataratas e retardo mental, cansada por uma forma inativa da enzima galactose-1-fosfato uridil transferase.
Análise Genealógica
1) Um menino de 4 anos tem os dentes pigmentados de marrom, pouco esmalte e dentina translúcida, permitindo visualizar-se os contornos da polpa. Mostra, ainda, desgaste das coroas e exposição de algumas polpas dentárias. Não há presença de cáries. Este quadro caracteriza a displasia da dentina e do esmalte. O heredograma da fig.11 mostra a distribuição de indivíduos afetados na família do propósito.
Fig.11 – Genealogia com diversos casos de displasia da dentina e do esmalte.
Observando os critérios de identificação (a doença não pulou nenhuma geração, não há preferência sexual) percebe-se que o padrão de herança da anomalia é autossômico dominante. A partir daí é até possível determinar o genótipo do probando e dependendo do seu cônjuge a probabilidade de nascimentos com indivíduos afetados.
2) Na genealogia da fig.12 está segregando o gene que determina um tipo de raquitismo (dependente da vitamina D). O paciente apresenta, entre outros problemas, hipoplasia do esmalte, que se mostra na Segunda dentição opaco e amarelo-acinzentado, bem como grandes câmaras pulpares, tendo havido fechamento tardio dos ápices radiculares.
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Fig.12 – Genealogia em que está segregando um gene responsável por raquitismo dependente da vitamina D.
O padrão desta herança é autossômico recessivo. O heredograma permite visualizar a importância do casamento consangüíneo no aumento das manifestações de anomalias.
Determinando o genótipo dos indivíduos é fácil dizer que há 25% de chance de um novo irmão do probando ser afetado.
A | a | |
A | AA | Aa |
a | Aa | aa |
3) Fez-se a descrição de uma família residente em Porto Alegre, na qual cinco pessoas apresentavam a displasia fibrosa das maxilas conhecida como querubinismo (a fig.13 mostra dois deles). A informação obtida (fig14) inclui sete gerações, num total de 75 indivíduos. Vinte e três foram examinados por geneticistas e uma referência sobre pessoa já falecida foi confirmada através de fotografia. A afecção nessa família provavelmente é condicionada por um gene autossômico dominante com expressividade variável.
Fig.13 – Dois irmãos afetados por querubinismo (VI-11 e VI-13 na genealogia da Fig.14).
Fig.14 – Genealogia da família adaptada ao lay-out da página com diversos casos de querubinismo. Extraído do artigo: F.M. Salzano e H. Ebling. 1966. “Cherubism in a Brazilian Kindred”. Acta Geneticae Medicae et Gemellologiae, Volume 15, número 3, p.296-301.
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